Por Alex Morais. Vencedor da categoria Melhor Coluna ou Crônica do Prêmio Adjori de Jornalismo SC edição 2013 publicado originalmente no Jornal Pauta de Herval d´Oeste.
Oh! Wanderson Santos, como se atreve a cruzar o caminho de um jovem herdeiro da oitava maior fortuna do mundo? Como você não deduziu que, quando dentro de uma Mercedes McLaren tudo que se quer é o horizonte, limpo, plano e belo à sua frente e não ter que cruzar com a realidade de um país em desenvolvimento.Quando se pilota um veículo de 2,7 milhões de Reais, não se deseja cruzar com a escória brasileira, os proletários, assalariados, o mau cheiro que a pobreza nacional exala. No comando do possante tudo que menos se imagina são os buracos na estrada de um país indiferente para as reais necessidades de segurança de um povo sofrido e trabalhador. Ciclovia em BR? Para quê? Para pobre se deslocar ao trabalho? Não. Quem dirige a máquina dos sonhos, se um dia lembrar da existência de uma ciclovia será a do Calçadão de Copacabana ou de Miami Beach.
Oh! Wanderson. Quantos sonhos você destruiu naquele domingo a noite, ao atropelar com sua bicicleta a Mercedes McLaren do jovem mais rico da América Latina? 20 anos apenas ele tinha Wanderson, quando você jogou sua bicicleta para cima de sua máquina. Que inconsequente você foi. Mal imagina você o processo de pintura de um veículo daqueles, provavelmente a tinta nem mesmo exista no Brasil. Você é um criminoso Wanderson. De “Santos” você não tem nada. Morreu antes de prestar socorro à vítima, inocente dentro de sua fortaleza automotiva, abalada psicologicamente com sua pobre vingança contra a elite burguesa. Isto é coisa do século 18 Wanderson. Você, como um guerreiro medieval, usou o corpo suado e calejado como arma mortal para cima do jovem.
Que culpa ele tem Wanderson, em ser filho do bilionário número um do Brasil e oitavo do mundo? (breve o número um do mundo como ele mesmo profetizou). Culpa nenhuma Wanderson. Você sim é culpado de chegar aos 30 anos sem status, posses, bens, garanto que sequer ousou a sonhar em ser dono um dia de uma empresa de petróleo. Você sempre sonhou pequeno Wanderson. Vai querer agora jogar a culpa no Brasil? Dizer que o governo e a sociedade nunca te deram chances de ser alguém, que teve que largar os estudos para ajudar a manter a família? Quantas vezes você reclamou Wanderson de ter que passar os dias carregando e descarregando caminhões. Seu ingrato. Aposto que os “Batistas” nunca, nunca reclamaram de ter que controlar centenas de caminhões rodando este país esburacado, levando minérios, combustíveis ou lanchas para as suas marinas.
Oh! Wanderson, agora deixou o jovem de apenas 20 anos envolto com advogados, ouvindo diariamente palavras como “doloso” e “culposo”. As palavras que interessam aos jovens deste clã não são escritas em português Wanderson. Quem sabe o doloso inspire no futuro uma nova DLX ou o culposo, uma nova CPX, mas você certamente nem sabe do que eu estou falando, certo Wanderson? Você voltava de um supermercado no domingo a noite trazendo bolo para o aniversário de sua esposa no dia seguinte. Agora misturou glacê com sangue na pintura do McLaren. Você me decepciona Wanderson. Por isto bi ou milionários querem distância de pessoas como você, que causam sujeira, incomodo e desperdício de tempo.
Não fosse você e sua bicicleta, o jovem estaria alcançando novos horizontes com sua máquina e preocupando-se com aquele que sim, é o grande dilema de um ser humano em vida: a hora de assumir a herança do pai. Wanderson, você estragou tudo. Quando os pobres vão perceber que não devem cruzar o caminho dos bilionários? Quando vão perceber que seu lugar é lá, no chão de fábrica, produzindo juros e dividendos para o patrão, para o Brasil, para que a engrenagem do sistema não pare nunca de funcionar.
Havia um Wanderson Santos no meio do caminho. No meio do caminho havia um Wanderson Santos e o pior, é que muitos acharão que eu fui sincero nestas linhas. Wanderson é Andressa de Luzerna. Wanderson são os anônimos chacinados em Realengo. Wanderson é o povo, que existe em número demasiado e por isto, sua falta, não faz falta e o esquecimento é rápido, rasteiro e mortal. Quanto à McLaren, o seguro cobre, (isto se a seguradora não for da própria família)e a pintura fica perfeita, novinha. Mas se fosse eu venderia e comprava uma nova: McLaren que já foi batida não combina com jovem bilionário de apenas 20 anos.
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