Não posso generalizar ao “afirmar” que a situação que vou
relatar nas próximas linhas aconteça em todas as cidades e regiões, embora possa “deduzir”
que certamente sim. Neste espaço quero relatar a experiência nas qual
tive a oportunidade de participar efetivamente e então expor aqui um quadro
alarmante sobre a ameaça que paira há anos sobre a produtividade agrícola, o
tão falado e ameaçador Êxodo Rural.
Nas últimas semanas, percorri cada quilômetro das 11
comunidades que constituem o interior de Peritiba, município próximo à
Concórdia e que se desenvolveu através de agricultores colonizadores que
mantiveram por longas décadas sua economia baseada nas parcerias firmadas com
cooperativas ou grandes marcas da agroindústria da região. Nas cidades, onde
eu e a ampla maioria das pessoas
passamos quase 100% de nossas vidas, ouvimos falar constantemente e sem maiores
preocupações sobre a saída do jovem do campo em busca de empregos na área
urbana, mas presenciar os relatos familiares mostram que a situação é bem mais
complicada. Durante produção de documentário – motivo destas idas ao interior –
fizeram parte da equipe de produção os diretores de cultura e turismo da
referida cidade, que nas saídas das quase 50 residências visitadas, chegavam a
novas conclusões sobre ações e decisões emergenciais que precisam ser tomadas.
Fato é que, em dois dias de visitas em diversas propriedades
rurais, coletando depoimentos sobre colonização e rotina dos trabalhos, não encontramos
sequer uma criança. Salvo esta situação apenas em uma única residência entre
todas, onde o filho do casal, ainda jovem, optou por ficar e assumir os
negócios do pai e no último dia de gravação, a noite, uma casa cheia de jovens
e crianças, mas era sábado e todos vieram da cidade visitar os avós.
Nos relatos dos casais visitados, uma constatação. Nenhum
homem ou mulher estava abaixo dos 70 anos de idade, em alguns casos, o casal se
aproxima dos 90. Sem exceção, todos afirmaram que os filhos mais velhos optaram
por ficar no campo até aproximados 30, 40 anos e então partiram. Os filhos mais
jovens, ficaram no campo até os 16, 18 e então rumaram para a cidade. Em cada
propriedade, a afirmação de que todos diminuíram as áreas de plantio por não
terem mais forças físicas ou mesmo motivação para trabalhos mais árduos. Apenas
grandes produtores, equipados com modernas máquinas e implementos e que mantém
funcionários contratados, ainda apostam na lucratividade vinda do campo. Outro
fato é o atualmente difícil relacionamento entre agricultores e cooperativas,
que envolvem exigências nas entregas dos animais ou produtos, melhores estradas
e até mesmo a falta de comércio de carne para exportação à outros continentes.
No presente momento, a produção leiteira tem sido o ganha-pão que ainda permite
a sobrevivência da agricultura familiar.
Uma conclusão óbvia, percebida e afirmada pelos casais
encontrados é que dentro de 10 anos, um grande percentual de propriedades
rurais daquela cidade serão formadas de casas, galpões e pastos abandonados. “a
velhice e as doenças farão nossos filhos nos levarem para a cidade e ninguém
mais virá aqui cuidar dos trabalhos”, foi frase falada à exaustão. No caso de
propriedades mantidas por casais um pouco mais jovens, na casa dos 60, 70 anos,
este prazo deve se estender um pouco mais, talvez 15, 20 anos. Uma percepção é
dada como certa; “não haverá milagres, não haverá uma grande surpresa, um
retrocesso, um debandada de pessoas da cidade para o campo”. Em no máximo 30
anos, prazo estipulado como máximo, todas as 11 comunidades do interior deverão
estar abandonadas serão como vilas fantasmas.
Dias depois, junto ao secretário de indústria e comércio da
vizinha Ipira, conversando sobre o assunto, a resposta foi objetiva; “em Ipira,
a situação é absolutamente igual e nós percebemos isto e trabalhamos sobre este
tema há alguns anos já”. Conforme o secretário, Ipira trabalha em cima de um
plano de previsão de economia dificílimo de ser aplicado em uma cidade de
pequeno porte que um dia foi essencialmente agrícola, que é; saber que dentro
de 30 anos, não haverá mais produção agrícola dentro do seu território, o setor
alimentício deverá ser todo comprado de outros centros e a prefeitura municipal
não terá arrecadação vinda da agricultura. Opinou que cidades como Campos
Novos, por exemplo, onde o pequeno produtor já foi extinguido e a produção
agropecuária já é trabalhada em caráter industrial, deverão ser os
abastecedores de alimentos de quase todo o país, o que deverá encarecer preços e todas as demais
conseqüências que um problema destes pode gerar.
Somado a isto, todas as
cidades sofrem com falta de políticas voltadas ao campo, estradas em péssimas
condições e até falta de incentivos e valorização ao pequeno produtor por parte
de quem poderia ser mais parceiro, as empresas do agronegócio. Em Joaçaba e
região por exemplo, fica ainda mais fácil imaginar o clima motivacional das
famílias agriculturas após o caso Coperio.
Na semana em que se comemora o Dia do Agricultor, a questão
é; o que eles próprios tem a comemorar?
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