Por vezes me questiono até que ponto vale a pena exercer o
ato de “dar socos em ponta de pregos” cotidianamente, sendo que no final das
contas, é sempre a sua mão que sai ferida? O que são estes socos em ponta de
pregos? O ato de tentar mudar o que não muda nunca, de falar o que ninguém
ouve, de pensar o que ninguém pensa. É como dizer ao fumante compulsivo que ele
precisa parar de fumar, ou dizer ao alcóolatra que ele precisa parar de beber.
Ele irá parar, mas você sabe quando, certo? Quando o diagnóstico médico dele
afirmar que sua vida está mais para lá do que para cá. Até lá, é falar ao
vento.
Por que digo isto? Estou tentando fazer alguém deixar a
bebida? Não. As pontas de pregos as quais me refiro são mais perigosas,
pontiagudas e ferem o coletivo e não apenas o individual. As pontas de pregos
podem ser a absolvição dos seis vereadores que usaram ilegalmente diárias com
verbas públicas, a licitação pública que se tenta renovar automaticamente de um
ano para o outro, não levando em conta que o prefeito é o mesmo, mas a gestão
do mandato não. É o esquecimento das coisas que aconteceram na mesma licitação em
questão na edição passada. É o prefeito do meio oeste que, para ser encontrado
no telefone o cidadão deverá ligar sempre com o prefixo 48. São os lobbys e
interesses pessoais colocados a frente antes da votação de um projeto, o
idealista que se corrompe, o lobo que vestiu pele de cordeiro durante as
eleições. É Renan Calheiros na presidência do Senado, é dar microfone para
Feliciano falar o que realmente pensa sobre as minorias, é pastor evangélico
que estupra fieis. É o jovem que estupra frente às câmaras e ao público, em um
Bizarro Big Brother da vida real, mas não pode ser condenado porque está abaixo
dos 18 anos e é tido como incapaz de responder pelos seus atos... pelo seu voto
é considerado capaz de responder, apenas pelos seus atos criminosos que não.
Dar soco em pontas de prego por aqui é falar do trânsito:
muita promessa, muito discurso e... muita fila. É querer que político eleito
pelo voto popular seja exemplo de conduta ética e moral. Dar soco em ponta de
pregos é achar que os assassinos da menina Andressa de Luzerna deveriam estar
presos e que, mais cedo ou mais tarde na liberdade que desfrutam podem fazer de
novo. É ver se desenrolar um caso de vítimas fatais de uma inocente endoscopia
que meses após meses, ano após ano não chega a conclusão alguma. É ouvir falar
enquanto candidato, que se eleito lutará pelos investimentos na cidade, mas
quando chega a hora de votar em um projeto como o investimento do Passarela, opta
por favorecer seus negócios particulares ou então negocia com comerciantes
locais o valor da sua decisão.
Em suma, isto é dar soco em pontas de pregos, é não aceitar
tanta ilegalidade, tanta passividade popular, desvio de dinheiro público em
obras que nunca ficam prontas ou projetos bons para a comunidade que são
vetados porque o legislativo é contra o prefeito. É o prefeito que se omite em
dar opinião e... o prefeito que anda falando (e se achando) demais. “As coisas
são assim mesmo”, dizem uns. “Não adianta mudar, a corrupção tá ai para sempre”
dizem outros. Mas talvez nada seja tão grave quanto o líder popular, o
representante de classe, o empresário ou formador de opinião que aconselha o
crítico a não criticar, mas não aconselha o criticado à mudar sua conduta ética
como líder. Estes são os mesmos que usam máquina de escrever para competir com
a tecnologia da sua concorrência e pior, não admitem que estão por trás de seus
próprios maus resultados.
Dar soco em ponta de pregos é afirmar que alguns mandatários
são bons, mas terrivelmente mal assessorados por pessoas mal intencionadas,
todos sabem, todos concordam, mas não se manifestam porque também tem sua
contribuição nas tomadas de decisões que beneficiam a poucos.
Nas últimas semanas tenho ouvido muitas pessoas falarem que
chegou a hora de desistir de criticar, de apontar falhas, de lutar contra o
sistema. Essa desistência é compreensível, é resultado das mãos estarem
sangrando (figurativamente falando) de tanto soquear os famigerados pregos. Por
vezes também acredito que “a ignorância é uma benção”, que o “não saber, não
ver, não escutar” nos faz viver mais tranquilos e menos revoltados com a
impunidade explícita de nossa rotina. Mas então retorno do “Momento Alzheimer” e lembro que, se o povo não falar,
não expressar sua opinião, não condenar o que é condenável e não exigir
explicações sobre aquilo que não tem explicação, a impunidade estará cada vez
mais impregnada em nossas vidas. Se várias mãos baterem juntas, os pregos
entortam. E ainda, se, inteligentemente, for usada a ferramenta certa, os
pregos soltam e caem. Povo passivo e omisso é o que de melhor pode existir para
um líder político mal intencionado.
Há tempos, a esperança para queda da injustiça estava no
vigor da juventude, que iria mudar o Brasil e o mundo. Agora, eles estão
ocupados demais para isto, curtindo fotos e mensagens no Facebook e se algum
deles, num súbito ataque de consciência se manifesta contrário ao sistema, vem
logo o conselho de cima; “para o bem de todos e felicidade geral da nação,
mantenha-se calado”.
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